A escolha do título de um blog parece, em um primeiro momento, algo despretensioso. Resolvi, entretanto, que o título deste blog encerraria sua razão de existir, sua missão, seria um direcionador das discussões (no sentido pacífico da palavra) que se farão neste espaço.
O grande tema, é claro, é a educação.
Pretende-se, no entanto, que se aborde esse tema tendo em mente os diversos aspectos que se relacionam com o desenvolvimento, aqui, no seu sentido mais abrangente, contemplando o desenvolvimento econômico de uma nação, o desenvolvimento pessoal de um indivíduo, o desenvolvimento de uma sociedade - o desenvolvimento...
Nesse sentido, é que gostaria de iniciar transcrevendo um artigo escrito pelo Representante da Unesco no Brasil Jorge Werthein sob o título de "Educação e Desenvolvimento" (qualquer semelhança com o título deste blog é mera coincidência), publicado em novembro de 2003 na Revista Linha Direta - Ano 6 - Nº 68, que apesar do tempo decorrido, permanece bastante atual:
"Quando a UNESCO e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) divulgaram, em junho deste ano, uma avaliação, realizada em 41 países, sobre o desempenho de estudantes na faixa de 15 anos de idade, trouxe à tona não só as discrepâncias na área educacional entre países ricos e aqueles pobres e em desenvolvimento, mas, principalmente, as diferenças significativas entre algumas nações que enfrentaram o desafio das áreas de educação, ciência e tecnologia e as que deixaram de fazer os investimentos necessários.
Ao analisar países bem-sucedidos, como a Irlanda, a Espanha e a Coréia do Sul, que há 30 anos enfrentavam sérias dificuldades sócio- econômicas, notamos que em comum são nações que fizeram o dever de casa, priorizando o ensino de qualidade de sua população. Como recompensa, são países que registram hoje alto nível educacional, crescimento econômico, aumento da renda da população, maior volume de exportações e melhoria no nível do emprego, além de respeito internacional. Já alguns países como o Brasil e o Peru, que deixaram de promover as reformas educacionais na devida época, apareceram na pesquisa com resultados insatisfatórios e preocupantes.
A avaliação é um bom termômetro para analisarmos o quanto os investimentos em educação, ciência e tecnologia podem ser decisivos para o desenvolvimento humano, social e econômico de um povo, sobretudo em países onde a exclusão social é mais gritante. Sabemos que, no Brasil, existem enormes desafios a serem superados, como a falta de recursos financeiros suficientes, mas o próprio exemplo dos países 'vitoriosos' mostra que a revolução é possível. Ao analisar a pesquisa, o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, observou que quando tais países fizeram a opção pela educação como setor prioritário, também passavam por dificuldades, assim como o Brasil hoje. 'A diferença é que contaram com uma coalizão suprapartidária capaz de construir a vontade política necessária para definir a prioridade nacional. O Brasil também pode', atesta Cristovam.
Para isso é necessário, porém, que o Brasil empreenda reformas educacionais urgentes que resultem na garantia do acesso generalizado à educação básica, no fim da cultura da repetência escolar, na melhoria da qualidade do ensino, na valorização do professor, na modernização da educação profissional e superior e no combate ao analfabetismo dentre outras relevantes medidas. Uma importante iniciativa de combate ao analfabetismo foi dada pelo Governo Federal ao lançar, em setembro, o Programa Brasil Alfabetizado, que pretende erradicar o analfabetismo do País em poucos anos.
Mas é preciso que a sociedade em geral comunidade, políticos, Organizações Não-Governamentais e iniciativa privada assumam um pacto nacional pela educação, que se traduza em um grande movimento brasileiro em prol da educação. Só com uma grande coalizão nacional será possível superar o conflito vivido hoje pelos países menos desenvolvidos na área de educação. Tais nações vivem um dilema: precisam resolver problemas não solucionados do século XX e correm contra o tempo para assumir os desafios emergentes que surgem com o século XXI, dos quais dependem o crescimento econômico, a equidade social e a integração cultural em um mundo globalizado e cada vez mais competitivo. Como, por exemplo, universalizar a inclusão digital e assegurar o acesso a novas tecnologias de informação e comunicação em lugares onde ainda existem crianças fora da escola, jovens e adultos analfabetos? Não dá para abandonar uma causa e priorizar a outra. Ambas iniciativas são igualmente importantes e precisam ser enfrentadas com vigor pelos governos, pela sociedade e pelos países que reconhecem a importância da cooperação internacional como caminho para se diminuir a pobreza e a exclusão social no mundo. Os países mais ricos poderiam dar grande contribuição à educação das nações menos desenvolvidas, sobretudo se fosse aceita a proposta brasileira de conversão de parte do pagamento da dívida externa em investimentos nas áreas de educação, ciência e tecnologia. A proposta foi apresentada durante a 32ª Conferência Geral da UNESCO, em Paris.
Como bem lembrou o Diretor Geral da UNESCO, Koichiro Matsuura, em palestra sobre 'Educação para Todos e Desenvolvimento Sustentável nos Países Menos Desenvolvidos', proferida em Bruxelas, em 2001, 'a educação deixou de ser apenas um direito fundamental consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a que todo ser humano pode aspirar, legitimamente, para a sua realização pessoal. Ela passou a ser precondição essencial para qualquer tipo de desenvolvimento, para a redução da taxa de desemprego e da pobreza, para o progresso social e cultural, para a promoção de valores democráticos e para o estabelecimento de uma paz duradoura'.